SOCIOLOGIA
Professor: Amadeu Cardoso
1º ano A/B/C/D
TEMA: Conhecimento científico: o método e a ciência
O escurecer do céu e a tempestade que o sucede podem ser analisados mediante a
aplicação de um método rigoroso de investigação que explicaria as causas e consequências
desse fenômeno, as condições em que ele acontece ou sua periodicidade. Ao seguir esse
método, o investigador não apenas produzirá um conhecimento válido como também
poderá promover sua aplicação útil. No século XX, o conhecimento formal fundamentado na observação e na experimentação, aliado a sua aplicação útil, tornou-se a principal
característica do que chamamos ciência.
O conhecimento científico também é resultado da busca constante por explicações
sobre os diferentes eventos que acontecem em nosso mundo. No entanto, essas explicações precisam ser construídas mediante rigorosa execução de um método organizado,
com base em teorias coerentes e socialmente aceitas.
Ciência: Estudo sistemático
e metódico dos
diferentes fenômenos
naturais ou sociais.
É realizado com base
na seleção de um
objeto de pesquisa,
que é então analisado
por meio de um
conjunto de técnicas
de investigação e
procedimentos de
verificação aprovados
coletivamente
por um grupo de
profissionais da área
do conhecimento
em questão.
Ciência e senso comum: opostos
ou complementares?
Desde que a ciência se estabeleceu como o principal meio de conhecimento dos
fenômenos naturais e sociais, sua relação com o senso comum tornou-se objeto de debates. De um lado, estão aqueles que a consideram um conhecimento hierarquicamente
superior ao senso comum; de outro, os que consideram complementares os dois tipos
de conhecimento.
O sociólogo Pedro Demo defende que a pesquisa é o modo pelo qual se conhece a
realidade. A investigação é uma característica fundamental da ciência. Ao comparar o senso
comum com a ciência, ele afirma que o primeiro aceita a realidade sem questionamentos
nem pesquisas. Isso equivale a afirmar que o Sol se movimenta em torno da Terra porque
o vemos nascer no leste e se pôr no oeste. Ao contrário, a ciência é construída com base
em pesquisas metodologicamente fundamentadas.
A contribuição da Sociologia para a
interpretação da sociedade contemporânea
Diferentemente dos modos de organização da vida social que a precederam, a sociedade contemporânea tem sido capaz de produzir explicações distintas sobre si mesma,
graças ao papel exercido pelo conhecimento científico. Se pensar sobre a vida social é
uma característica das sociedades humanas, com a Sociologia esse pensar adquire rigor e
perspectiva singulares, que se expressam na construção de diferentes métodos de análise
sobre o mundo.
A busca por uma interpretação científica
da realidade social
O estabelecimento da ciência como principal meio de explicar o mundo influenciou o
modo como a realidade social passou a ser interpretada a partir do século XIX. As transformações sociais, políticas e econômicas que culminaram com as revoluções Industrial
e Francesa trouxeram para seus contemporâneos novos dilemas a serem enfrentados.
No que se refere à Revolução Industrial, é importante entender que ela alterou profundamente as relações sociais e econômicas vigentes na época. Em lugar da tradicional
economia agrária, consolidou-se uma realidade cada vez mais urbanizada, com o aumento
da população nas cidades e o rápido desenvolvimento do comércio e da industrialização.
Surgiu também uma mão de obra barata e abundante, formada principalmente pelos
camponeses que haviam sido expulsos das antigas propriedades comunais, convertidas
agora em propriedades privadas. Essa mão de obra foi submetida a condições laborais
insalubres e jornadas exaustivas. O trabalho nas fábricas era realizado sem nenhum tipo
de proteção contra doenças ou acidentes, sem salário fixo nem garantia de emprego,
configurando um novo e terrível quadro social de exploração e desigualdade, cada vez
mais afastado dos ideais iluministas que antecederam a sociedade capitalista.
Sociologia: Ciência que tem
papel importante
na explicação e na
interpretação dos
fenômenos sociais.
É utilizada como
base reflexiva em
diferentes áreas do
conhecimento, da
Medicina ao Direito.
Esse saber permite
traçar um panorama
bastante amplo
dos problemas da
sociedade. Desde
2008, é disciplina
obrigatória nas
escolas de Educação
Básica no Brasil,
tendo papel central
na formação dos
estudantes e na
reflexão crítica por
parte destes.
No momento em que os problemas da sociedade passaram a ser percebidos como passíveis de solução, ela se tornou objeto de estudo científico. Em seu Curso de filosofia positiva,
Augusto Comte foi o primeiro a definir a Sociologia como a ciência que busca a compreensão
dos fundamentos das relações sociais. Naquele contexto, ela foi pensada como técnica para
encontrar soluções para os problemas da sociedade industrial europeia, principalmente o da
desigualdade, que tantos riscos causava à ordem social capitalista e burguesa.
Ao longo dos últimos dois séculos, as análises da Sociologia possibilitaram não somente
a compreensão das questões relativas ao processo de industrialização, mas também de
todas as estruturas da sociedade contemporânea, contribuindo para que os indivíduos
e as coletividades possam entender-se como parte de estruturas sociais nas quais são
plenamente capazes de interferir.
Os métodos de análise sociológica
da realidade social
A análise sociológica consolida progressivamente um conjunto de procedimentos
(ou métodos) científicos que auxiliam na compreensão da realidade social. Nas Ciências
Sociais, esses métodos são os caminhos que levam à explicação dos fenômenos sociais e
à construção do conhecimento. Há três grandes vertentes metodológicas na Sociologia,
cada qual correspondente a um dos três grandes autores clássicos: o funcionalismo, a
sociologia compreensiva e o materialismo histórico e dialético.
DADOS: VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER (https://dossies.agenciapatriciagalvao.org.br/violencia-em-dados/
A Sociologia e a interpretação da sociedade do século XXI
O movimento de transformação do mundo não para. A política, a economia e as diferentes formas de organização social (família, escola, trabalho) surpreendem pela velocidade com que produzem novas relações ou rearranjam as antigas. Testemunhas de eventos como a queda do muro de Berlim, em 1989, e do progressivo avanço das tecnologias de comunicação (em especial a telefonia celular e a rede mundial de computadores), as últimas décadas podem ser caracterizadas por um conjunto de transformações que alteraram significativamente a estrutura social em todo o planeta. As mudanças pelas quais passam a economia, a cultura, a política e todas as esferas da vida social têm sido cada vez mais objeto de pesquisas, e a ciência, em seus diferentes campos, tem sido convocada a dar conta de novas realidades constituídas de elementos como novas relações de trabalho, novos arranjos políticos e novas representações e de diferentes aspectos da sociabilidade, como a criminalidade violenta e o consumismo.
Uma dessas interpretações reconhece que, tendo como base uma revolução causada pelo avanço das tecnologias da informação, produziu-se uma remodelação cada vez mais rápida das estruturas sociais. Partindo dessa constatação, o sociólogo espanhol Manuel Castells mostra que as economias do mundo estabeleceram um novo processo de interdependência global, que transformou radicalmente as antigas formas de relação entre a economia, o Estado e a sociedade. Segundo Castells, todas as alterações de caráter econômico, cultural e político devem ser analisadas em relação às transformações tecnológicas de informação, pois o fluxo de informações – isto é, o modo pelo qual elas se propagam e estabelecem diferentes redes sociais – altera os padrões de reprodução social, resultando em constantes mudanças no tecido social. A internet, o trabalho flexível (grandes variações nas condições contratuais, flexibilidade de horário e local de trabalho, novas formas de gestão do trabalho e da produção etc.) e as ONGs transnacionais são exemplos dessas mudanças, bem como as formas de relacionamento virtual, entretenimento eletrônico e cooperação internacional. A partir dessas transformações, Castells vê surgir um novo processo social, que ele chamou de sociedade em rede, ou sociedade informacional.
O sociólogo polonês Zygmunt Bauman destaca o fato de vivermos uma época na qual os parâmetros que construíram a modernidade com base nos ideais emancipatórios da Revolução Francesa perderam sua eficácia. As expectativas de construção de um mundo justo e seguro falharam, e a sociedade hoje vive as consequências de uma realidade de incertezas. A falta de estabilidade no emprego e a incapacidade dos Estados de corrigir essa insegurança constituem importante matriz dos problemas sociais da atualidade. Como a política não é mais capaz de centralizar as demandas sociais, os indivíduos são impedidos ou se abstêm de decidir coletivamente sobre a organização da sociedade. Em lugar do poder de decidir sobre as leis que devem seguir (marca da democratização da política moderna como meio de solucionar os problemas sociais de origem econômica), foi criado um espaço vazio que favorece as soluções individuais e enfraquece a vida coletiva nas sociedades atuais. A forma como esse espaço será preenchido é uma questão tanto para a Sociologia quanto para o futuro de cada sociedade.
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Cumpridas todas essas etapas do método, o pesquisador deve ainda redigir um
artigo (o chamado paper) detalhando todo o estudo, a metodologia utilizada e os
resultados obtidos. Esse documento será então enviado a uma ou mais revistas
científicas para publicação, o que permitirá que seus pares o conheçam e repliquem
(repitam) para avaliar e validar suas conclusões. São os mecanismos de autocorreção
da ciência. Só então, após esse diálogo e a interação com a comunidade científica,
as descobertas do estudo poderão se incorporar ao conjunto de conhecimentos
considerados científicos.
Os objetos contemporâneos estudados pelas Ciências Sociais não se esgotam nesses
temas. Podemos partir de uma questão como o desemprego e descobrir temas tão importantes como a divisão internacional do trabalho, as condições de saúde do trabalhador,
as políticas de previdência social e habitação popular, a cultura da periferia e suas manifestações artísticas, assim como as características da violência na cidade e a distribuição
das ações criminosas entre os bairros.
Uma vontade de saber inesgotável e uma insatisfação com conclusões prontas ou
apressadas conduzem o cientista social, por meio de diferentes métodos, a construir
interpretações que revelam fenômenos inacessíveis ao espectador casual. O valor dessas
interpretações pode ser apropriado pelo senso comum, que se torna mais esclarecido, ou
ser utilizado por técnicos e políticos para apresentar soluções objetivas para problemas
específicos. Elas servem ainda como referência para futuras pesquisas de outros cientistas, para que aprofundem ou mesmo refutem, quando for o caso, seu trabalho. E essa é a
razão de ser da prática científica enquanto durar a curiosidade humana. Assim avançam
as Ciências Sociais.
Questão do método nas Ciências Humanas e Sociais
Para estudarmos os seres humanos e suas construções ao longo do tempo e do
espaço utilizamos metodologias específicas, diferentes das utilizadas pelas Ciências
da Natureza. Foi o que alertou Wilhelm Dilthey quando propôs outro tipo de logos ou
racionalidade como fundamento para o conjunto de ciências que ele designava então
como “ciências do espírito” – e que hoje se denominam Ciências Humanas e Sociais
Aplicadas.
Para Dilthey, as Ciências da Natureza estariam baseadas no determinismo mecanicista e na concepção de que a natureza se manifesta de maneira regular ao longo
do tempo, o que permite ao cientista formular explicações a seu respeito, culminando
em leis e teorias. Já as Ciências Humanas e Sociais Aplicadas lidam com objetos indeterminados e com o imprevisto de suas ações. Portanto, só restaria ao pesquisador
dessa área buscar apreender o conjunto de elementos que se aplicam a um problema
para alcançar seus sentidos e sua compreensão, fazendo uso, assim, de outro logos
ou outra racionalidade.
Por isso, as Ciências da Natureza e as Ciências Humanas
e Socias Aplicadas seriam ontologicamente distintas, segundo Dilthey. As primeiras se constituiriam em atividades
explicativas; as últimas, em atividades compreensivas. Foi
dessa distinção que, a partir da segunda metade do século
XX, surgiram correntes metodológicas que, sem deixar de
seguir as etapas tradicionais do método científico experimental, deram destaque aos dois enfoques básicos utilizados atualmente nas Ciências Humanas e Sociais Aplicadas:
Enfoque quantitativo – empregado quando se tem uma
pergunta ou hipótese sobre a realidade, fazendo uso
da coleta de dados e da análise estatística (medição e
quantificação) para respondê-la ou confirmá-la;
Enfoque qualitativo – empregado quando não se conhece a realidade e se busca
compreendê-la, fazendo uso da linguagem natural (sem medição numérica) na coleta
de dados para mapear o contexto e as percepções dos atores sociais.
Os estudos qualitativos das Ciências Humanas e Sociais Aplicadas seguem um
processo indutivo (vão do particular ao geral), gerando perspectivas teóricas a partir
da exploração do objeto de estudo, mas não pretendem, com isso, chegar necessariamente a generalizações que atinjam contextos mais amplos ou universais. Entre
as técnicas de obtenção de dados estão entrevistas, questionários, grupos focais,
observação, registros históricos etc.
VAMOS FAZER UMA PESQUISA?
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