domingo, 3 de março de 2024

1º ANO - Conhecimento científico: o método e a ciência

 SOCIOLOGIA

Professor: Amadeu Cardoso
1º ano A/B/C/D

TEMA: Conhecimento científico: o método e a ciência 



O escurecer do céu e a tempestade que o sucede podem ser analisados mediante a aplicação de um método rigoroso de investigação que explicaria as causas e consequências desse fenômeno, as condições em que ele acontece ou sua periodicidade. Ao seguir esse método, o investigador não apenas produzirá um conhecimento válido como também poderá promover sua aplicação útil. No século XX, o conhecimento formal fundamentado na observação e na experimentação, aliado a sua aplicação útil, tornou-se a principal característica do que chamamos ciência.
O conhecimento científico também é resultado da busca constante por explicações sobre os diferentes eventos que acontecem em nosso mundo. No entanto, essas explicações precisam ser construídas mediante rigorosa execução de um método organizado, com base em teorias coerentes e socialmente aceitas.

Ciência:  Estudo sistemático e metódico dos diferentes fenômenos naturais ou sociais. É realizado com base na seleção de um objeto de pesquisa, que é então analisado por meio de um conjunto de técnicas de investigação e procedimentos de verificação aprovados coletivamente por um grupo de profissionais da área do conhecimento em questão. 

Ciência e senso comum: opostos ou complementares?

Desde que a ciência se estabeleceu como o principal meio de conhecimento dos fenômenos naturais e sociais, sua relação com o senso comum tornou-se objeto de debates. De um lado, estão aqueles que a consideram um conhecimento hierarquicamente superior ao senso comum; de outro, os que consideram complementares os dois tipos de conhecimento. 
O sociólogo Pedro Demo defende que a pesquisa é o modo pelo qual se conhece a realidade. A investigação é uma característica fundamental da ciência. Ao comparar o senso comum com a ciência, ele afirma que o primeiro aceita a realidade sem questionamentos nem pesquisas. Isso equivale a afirmar que o Sol se movimenta em torno da Terra porque o vemos nascer no leste e se pôr no oeste. Ao contrário, a ciência é construída com base em pesquisas metodologicamente fundamentadas.

A contribuição da Sociologia para a interpretação da sociedade contemporânea
Diferentemente dos modos de organização da vida social que a precederam, a sociedade contemporânea tem sido capaz de produzir explicações distintas sobre si mesma, graças ao papel exercido pelo conhecimento científico. Se pensar sobre a vida social é uma característica das sociedades humanas, com a Sociologia esse pensar adquire rigor e perspectiva singulares, que se expressam na construção de diferentes métodos de análise sobre o mundo.

A busca por uma interpretação científica da realidade social

O estabelecimento da ciência como principal meio de explicar o mundo influenciou o modo como a realidade social passou a ser interpretada a partir do século XIX. As transformações sociais, políticas e econômicas que culminaram com as revoluções Industrial e Francesa trouxeram para seus contemporâneos novos dilemas a serem enfrentados.
No que se refere à Revolução Industrial, é importante entender que ela alterou profundamente as relações sociais e econômicas vigentes na época. Em lugar da tradicional economia agrária, consolidou-se uma realidade cada vez mais urbanizada, com o aumento da população nas cidades e o rápido desenvolvimento do comércio e da industrialização. Surgiu também uma mão de obra barata e abundante, formada principalmente pelos camponeses que haviam sido expulsos das antigas propriedades comunais, convertidas agora em propriedades privadas. Essa mão de obra foi submetida a condições laborais insalubres e jornadas exaustivas. O trabalho nas fábricas era realizado sem nenhum tipo de proteção contra doenças ou acidentes, sem salário fixo nem garantia de emprego, configurando um novo e terrível quadro social de exploração e desigualdade, cada vez mais afastado dos ideais iluministas que antecederam a sociedade capitalista.

Sociologia: Ciência que tem papel importante na explicação e na interpretação dos fenômenos sociais. É utilizada como base reflexiva em diferentes áreas do conhecimento, da Medicina ao Direito. Esse saber permite traçar um panorama bastante amplo dos problemas da sociedade. Desde 2008, é disciplina obrigatória nas escolas de Educação Básica no Brasil, tendo papel central na formação dos estudantes e na reflexão crítica por parte destes.

No momento em que os problemas da sociedade passaram a ser percebidos como passíveis de solução, ela se tornou objeto de estudo científico. Em seu Curso de filosofia positiva, Augusto Comte foi o primeiro a definir a Sociologia como a ciência que busca a compreensão dos fundamentos das relações sociais. Naquele contexto, ela foi pensada como técnica para encontrar soluções para os problemas da sociedade industrial europeia, principalmente o da desigualdade, que tantos riscos causava à ordem social capitalista e burguesa. 
Ao longo dos últimos dois séculos, as análises da Sociologia possibilitaram não somente a compreensão das questões relativas ao processo de industrialização, mas também de todas as estruturas da sociedade contemporânea, contribuindo para que os indivíduos e as coletividades possam entender-se como parte de estruturas sociais nas quais são plenamente capazes de interferir.

Os métodos de análise sociológica da realidade social

A análise sociológica consolida progressivamente um conjunto de procedimentos (ou métodos) científicos que auxiliam na compreensão da realidade social. Nas Ciências Sociais, esses métodos são os caminhos que levam à explicação dos fenômenos sociais e à construção do conhecimento. Há três grandes vertentes metodológicas na Sociologia, cada qual correspondente a um dos três grandes autores clássicos: o funcionalismo, a sociologia compreensiva e o materialismo histórico e dialético.






A Sociologia e a interpretação da sociedade do século XXI

O movimento de transformação do mundo não para. A política, a economia e as diferentes formas de organização social (família, escola, trabalho) surpreendem pela velocidade com que produzem novas relações ou rearranjam as antigas. Testemunhas de eventos como a queda do muro de Berlim, em 1989, e do progressivo avanço das tecnologias de comunicação (em especial a telefonia celular e a rede mundial de computadores), as últimas décadas podem ser caracterizadas por um conjunto de transformações que alteraram significativamente a estrutura social em todo o planeta. As mudanças pelas quais passam a economia, a cultura, a política e todas as esferas da vida social têm sido cada vez mais objeto de pesquisas, e a ciência, em seus diferentes campos, tem sido convocada a dar conta de novas realidades constituídas de elementos como novas relações de trabalho, novos arranjos políticos e novas representações e de diferentes aspectos da sociabilidade, como a criminalidade violenta e o consumismo.
Uma dessas interpretações reconhece que, tendo como base uma revolução causada pelo avanço das tecnologias da informação, produziu-se uma remodelação cada vez mais rápida das estruturas sociais. Partindo dessa constatação, o sociólogo espanhol Manuel Castells mostra que as economias do mundo estabeleceram um novo processo de interdependência global, que transformou radicalmente as antigas formas de relação entre a economia, o Estado e a sociedade. Segundo Castells, todas as alterações de caráter econômico, cultural e político devem ser analisadas em relação às transformações tecnológicas de informação, pois o fluxo de informações – isto é, o modo pelo qual elas se propagam e estabelecem diferentes redes sociais – altera os padrões de reprodução social, resultando em constantes mudanças no tecido social. A internet, o trabalho flexível (grandes variações nas condições contratuais, flexibilidade de horário e local de trabalho, novas formas de gestão do trabalho e da produção etc.) e as ONGs transnacionais são exemplos dessas mudanças, bem como as formas de relacionamento virtual, entretenimento eletrônico e cooperação internacional. A partir dessas transformações, Castells vê surgir um novo processo social, que ele chamou de sociedade em rede, ou sociedade informacional.

O sociólogo polonês Zygmunt Bauman destaca o fato de vivermos uma época na qual os parâmetros que construíram a modernidade com base nos ideais emancipatórios da Revolução Francesa perderam sua eficácia. As expectativas de construção de um mundo justo e seguro falharam, e a sociedade hoje vive as consequências de uma realidade de incertezas. A falta de estabilidade no emprego e a incapacidade dos Estados de corrigir essa insegurança constituem importante matriz dos problemas sociais da atualidade. Como a política não é mais capaz de centralizar as demandas sociais, os indivíduos são impedidos ou se abstêm de decidir coletivamente sobre a organização da sociedade. Em lugar do poder de decidir sobre as leis que devem seguir (marca da democratização da política moderna como meio de solucionar os problemas sociais de origem econômica), foi criado um espaço vazio que favorece as soluções individuais e enfraquece a vida coletiva nas sociedades atuais. A forma como esse espaço será preenchido é uma questão tanto para a Sociologia quanto para o futuro de cada sociedade.

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Cumpridas todas essas etapas do método, o pesquisador deve ainda redigir um artigo (o chamado paper) detalhando todo o estudo, a metodologia utilizada e os resultados obtidos. Esse documento será então enviado a uma ou mais revistas científicas para publicação, o que permitirá que seus pares o conheçam e repliquem (repitam) para avaliar e validar suas conclusões. São os mecanismos de autocorreção da ciência. Só então, após esse diálogo e a interação com a comunidade científica, as descobertas do estudo poderão se incorporar ao conjunto de conhecimentos considerados científicos. 

Os objetos contemporâneos estudados pelas Ciências Sociais não se esgotam nesses temas. Podemos partir de uma questão como o desemprego e descobrir temas tão importantes como a divisão internacional do trabalho, as condições de saúde do trabalhador, as políticas de previdência social e habitação popular, a cultura da periferia e suas manifestações artísticas, assim como as características da violência na cidade e a distribuição das ações criminosas entre os bairros. Uma vontade de saber inesgotável e uma insatisfação com conclusões prontas ou apressadas conduzem o cientista social, por meio de diferentes métodos, a construir interpretações que revelam fenômenos inacessíveis ao espectador casual. O valor dessas interpretações pode ser apropriado pelo senso comum, que se torna mais esclarecido, ou ser utilizado por técnicos e políticos para apresentar soluções objetivas para problemas específicos. Elas servem ainda como referência para futuras pesquisas de outros cientistas, para que aprofundem ou mesmo refutem, quando for o caso, seu trabalho. E essa é a razão de ser da prática científica enquanto durar a curiosidade humana. Assim avançam as Ciências Sociais.



Questão do método nas Ciências Humanas e Sociais

Para estudarmos os seres humanos e suas construções ao longo do tempo e do espaço utilizamos metodologias específicas, diferentes das utilizadas pelas Ciências da Natureza. Foi o que alertou Wilhelm Dilthey quando propôs outro tipo de logos ou racionalidade como fundamento para o conjunto de ciências que ele designava então como “ciências do espírito” – e que hoje se denominam Ciências Humanas e Sociais Aplicadas.
Para Dilthey, as Ciências da Natureza estariam baseadas no determinismo mecanicista e na concepção de que a natureza se manifesta de maneira regular ao longo do tempo, o que permite ao cientista formular explicações a seu respeito, culminando em leis e teorias. Já as Ciências Humanas e Sociais Aplicadas lidam com objetos indeterminados e com o imprevisto de suas ações. Portanto, só restaria ao pesquisador dessa área buscar apreender o conjunto de elementos que se aplicam a um problema para alcançar seus sentidos e sua compreensão, fazendo uso, assim, de outro logos ou outra racionalidade.
Por isso, as Ciências da Natureza e as Ciências Humanas e Socias Aplicadas seriam ontologicamente distintas, segundo Dilthey. As primeiras se constituiriam em atividades explicativas; as últimas, em atividades compreensivas. Foi dessa distinção que, a partir da segunda metade do século XX, surgiram correntes metodológicas que, sem deixar de seguir as etapas tradicionais do método científico experimental, deram destaque aos dois enfoques básicos utilizados atualmente nas Ciências Humanas e Sociais Aplicadas: 
Enfoque quantitativo – empregado quando se tem uma pergunta ou hipótese sobre a realidade, fazendo uso da coleta de dados e da análise estatística (medição e quantificação) para respondê-la ou confirmá-la; 
Enfoque qualitativo – empregado quando não se conhece a realidade e se busca compreendê-la, fazendo uso da linguagem natural (sem medição numérica) na coleta de dados para mapear o contexto e as percepções dos atores sociais.

Os estudos qualitativos das Ciências Humanas e Sociais Aplicadas seguem um processo indutivo (vão do particular ao geral), gerando perspectivas teóricas a partir da exploração do objeto de estudo, mas não pretendem, com isso, chegar necessariamente a generalizações que atinjam contextos mais amplos ou universais. Entre as técnicas de obtenção de dados estão entrevistas, questionários, grupos focais, observação, registros históricos etc.

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